Ninguém precisa sair procurando loucamente a metade da laranja

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Ninguém precisa sofrer por não encontrar, naquela ideia fantasiosa que dizem por aí, aquele amor verdadeiro que em determinado momento ou circunstância, aparece na fila do mercado, comprando pão ou lendo um livro no metrô. As probabilidades disso são extremamente raras de acontecerem, hoje em dia. Sejamos claros.

Vamos ser sinceros conosco e amar quem deve ser amado em primeiro lugar: nós mesmos. Antes de querermos encontrar qualquer ser humano que tenha a promessa de nos fazer findar essa procura, que saibamos nos apaixonar por aquilo que temos de melhor em nós, que reconheçamos nossos piores defeitos, nossas compulsivas manias e nossas grandiosas virtudes. Não nos deixemos levar pela utopia de que a princesa nos espera no alto do castelo ou de que o príncipe encantado vai procurar a dona do sapato de cristal.

Sejamos exigentes, sim, porque sabendo daquilo que somos, podemos encontrar aquilo que nos faça realmente feliz por somar, não completar. Não queiramos ter alguém que nos complete por, simplesmente, desconhecermos as nossas virtudes e ir logo, de prontidão, apostando e idealizando uma vida nesse alguém que a pouco conhecemos no metrô ou na balada.

Conheço várias pessoas que não encontram aquele amor que tanto sonham por procurarem aqueles romances da sessão da tarde, cheios de opostos que se atraem, de finais alegres. Já disse à várias delas que são exigentes demais consigo por estarem apegadas a um passado que não deu certo com pessoa A e B e ainda acreditam que, de alguma forma, com C ou D dará certo da mesma forma. Procuram em cada olhar a oportunidade de encher os vazios, as incompreensões e as desilusões já vividas.

Concordo com Mário Quintana que é tão bom morrer de amor e continuar vivendo, mas é preciso, essencialmente, amar-se e muito. Amor-próprio não faz mal a ninguém. Ser feliz sozinho, antes de ser feliz com alguém. Ser feliz com a própria companhia, antes de procurar parceria para o cinema, para dividir a conta, para ir onde quer que seja. Encontrar-se consigo mesmo para não se perder ao dar errado com a pessoa C, depois com a D e seguir, infinitamente, essa loucura vendida de que entender a solidão é um castigo.

Resolver olhar para dentro de si e valorizar-se não é egoísmo. É reconhecer o que precisamos para seguir a vida. Vamos desejar à nossa vida aquilo que soma. De fato, afeto, soma, mas não precisamos ficar estagnados àquilo que apenas nos faz mais do mesmo.

Ninguém precisa sair procurando loucamente a metade da laranja com medo de que ela tenha virado suco. Sejamos completos primeiro. Depois de entender isso, podemos, livremente, fazer a nossa busca no metrô ou na fila do supermercado. Tudo o que virá será somado a nós.


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