Somos a geração Netflix?

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Somos a geração Netflix? Ontem mesmo vimos nossos primos e irmãos indo para balada e no almoço de domingo contarem histórias da noite que passaram ou ouvimos sobre suas viagens com amigos que fizeram com pouco dinheiro no bolso, imaginando que um dia estaríamos naquela posição contando altas aventuras que guardaríamos de recordação também.

Hoje, tentando nos recompor daquela sensação de que a semana  nos consumiu por inteiro de segunda a sexta, escolhemos a programação do final de semana inteiro pela ponta dos dedos (quando não ficamos procurando algo que nunca sabemos o que é e acabamos dormindo) com a geladeira lotada com aquilo de mais calórico para enfrentar maratonas de séries e filmes disponíveis ao nosso bem querer, ao alcance das nossas mãos, sem esforço algum.

Somos a geração que reclama da misteriosa existência do amor verdadeiro, da dificuldade de conquistarmos nossos objetivos, da saudade daqueles amigos que há tempos não vemos e da falta de exercícios físicos para nos mantermos dispostos a semana inteira. Entretanto, se quer conseguimos ou desejamos ter ânimo para a mudança disso, afinal, trabalhamos quarenta horas por semana, amar é complicado demais, sonhar esfola os joelhos, amizade é amizade com ou sem tempestades e todo mundo anda ocupado mesmo, e exercício físico é dispensável quando a farmácia da esquina vende polivitamínicos em comprimidos. Desculpas furadas. 

Somos a geração Netflix? Por comodismo ficamos em casa. Por comodismo querermos acreditar na velha história de que "o que é nosso está guardado" ou "o que nosso até nós chegará". Orgulhosos. Preguiçosos. Cansados. Esperamos tudo da poltrona do sofá, com um prato de brigadeiro e com lágrimas rolando entre episódios e mais episódios da nossa série favorita, acreditando que a vida, de alguma forma, aconteça fora daquela tela, esquecendo da emoção de vivermos a própria vida.

Estamos nos tornando aqueles que esperam demais. Aguardamos que a tela touchscreen nos leve a algum  lugar de verdade, às pessoas de verdade. Bobos acreditamos em todas essas histórias de sucesso contadas nessas telas. Rimos e choramos, e com todas elas refletimos, desejando mergulhar um dia. Ensaiando para, uma hora ou outra, pegarmos impulso e pularmos. Mas nada acontece por estamos cansados, cômodos. 

Enquanto isso, lá na nossa gaveta, adormecem sonhos sem  perspectiva de final. Por comodismo. Por medo de que nossa vida seja o Titanic ou uma adaptação cinematográfica dos livros do Nicholas Sparks. A vida não nos dá muitas garantias, certezas, e assistí-la  apáticos é, sem dúvidas, garantia de que estamos nos ausentando consigo mesmos. 

Somos a geração Netflix? Não adianta mil e uma opções no catálogo e nenhuma motivação para a vida fora do sofá, dos sonhos e de toda a fantasia romanceada de quando se dá a cara a tapa.

Por enquanto, pelo que percebo por aí, somos, sim, a geração Netflix e isso não é fato a se gabar.

Se você ainda está em dúvida entre sair ou ficar em casa, não pense duas vezes, vá atrás dos seus sonhos, vá escrever sua vida, simplesmente, vivendo. Somos a geração Netflix? Espero que não mais.


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